Retiro

Se é possível, desejo um retiro.

Retiro de sentimentos pesados. 

Retiro da ansiedade que sufoca o peito e acelera batimentos.

Retiro da solidão, da tristeza, da culpa,

Retiro dessa coisas que não se encurtam e machucam.

Retiro, se é possível

de silêncios agonizantes. Raiva cega. Loucura surda.

Retiro das memórias horríveis,

Dos traumas, das feridas, para ainda que retirados os curativos...

Não exista o retiro da docilidade, amor, resiliência, paciência, sabedoria

e serenidade para entender que certos retiros

pertencem somente a mim.

Oração

É mais do que listas.
É a sensação de pensar em listas,
provoca.

Só queria dizer meu Deus, obrigada.
Por me permitir aqui chegar.
Tenho falado pouco contigo, quase nada
é verdade.

Agradecer por cada rumo tomado
e por mim não compreendido.
Por cada choro calado,
por todo o desconhecido.

Agradecer.
Olhando pra trás, por todas histórias vividas.
Por todos aprendizados adquiridos.
Só peço força, sabedoria, paz e tua presença junto de mim.
Não sei caminhar sozinha,
sem sua luz a me guiar.

Permanece aqui comigo,
sem ti não existo!

*

Recomeços II

Deixar a vida de antes e tudo para trás era reconfortante porém trazia também a dor pelo que ficara e o medo pelo que viria. O ônibus partia ao cair da noite, a viagem pela madrugada o tiraria dali. A estrada era longa mas libertadora. Não existiam muitas opções de deslocamento, o ônibus era sua única saída daquela prisão tão subjetiva e abstrata. Subiu as escadas e por alguns segundos sua mente refrescou e esqueceu rápido as ponderações que a vida traz. O que lhe aguardava, ele não sabia. Como um pêndulo, o mantra dos seus desejos enfim chegava ao ponto que ele queria, por um defeito.

Com a cabeça baixa, levantou num leve aceno para o motorista. O ônibus não era novo e mais parecia de outra época e talvez fosse mesmo. Ficara tanto tempo preso naquele lugar...

Dor e vida

Olhar fixo num horizonte

Ainda esquisito. 

Em um segundo o mundo girou,

E o silêncio voltou

A respiração acalmou

Porém que falta faz 

O amor que sonhou e

Virou um a mais

Na cena do crime,

As vítimas sentenciadas,

São o velho clichê

De uma tragédia anunciada

Eu e você não existe 

O mundo girou

E não me perguntou

O que você sente?

Ofensas e doações,

Pegos de uma só vez:

Balança desequilibrada.

Amor no coração

Não conseguiu equaliza-la

E se desfez

Cansaço, morte

Desleixo, indomada

Não se sabe ainda se forte

É dolorosa a pancada 

Por quanto ainda irá

Não se sabe, ela emerge no olhar

Quem sabe o que trará.

Porque agora é assim

E, porque, é preciso acrescentar

Todo carnaval tem seu fim.

E a páscoa vem aí.

.

Deus é mais!

Ele vive, reina para sempre.


*