domingo, 7 de janeiro de 2018

Presa na guerra

Está frio e todos estes panos pesam, e ainda assim sinto o frio. 
No tempo, ao meu redor, nos olhos, nos corações pulsantes que comigo estiveram e estão.Gostaria de acordar desse mundo gelado. Ir para um desfecho inusitado, de convite, um encontro. Ver o vermelho de um batom. Poças somente de água. Porém estou presa e ao meu lado, sofrem. 

Não me recordo mais da leveza de um bom banho. Meu coração aperta. Não vejo meu filho, ele ficou com minha mãe. Ainda não tinha sido atacada nossa casa quando os deixei, dois anos atrás. Chegamos aqui e meu marido estava fora já há três anos, em meu coração ainda há esperanças de encontrá-lo vivo, mas aqui meus olhos só vêem morte.

Somos em muitas, piloto, partisan, franco-atiradoras, enfermeiras, comunicações. E somos mães, filhas, irmãs, ainda nos corre à veia, o ser. E em meio a toda esta guerra, desconheço seu real significado. Minha força está em meu filho, retornar e olhá-lo com um singelo olhar e nada dizer.

A guerra ensinou muito o valor do silêncio. Ele tem sentimento e diz muito mais do que as palavras ditas. O tempo ganhou uma nova forma de medida, ele ora estaciona, ora se arrastar, ora tem cheiro de paralização.

O amor para as jovens se perdeu, se são jovens mulheres, esqueceram. O corpo não as responde,seus ciclos e natureza. Parece até que sabem que filhos da guerra sofrem. Roupas de baixo se tornaram artigos de luxo, ouro e oásis no deserto.

O frio queima, o ódio alimenta, mas na maioria das vezes a apatia prevalece, levando a esperança. Stalin, defendi e me arrependo. O que ali fizemos? Quis servir. A jovialidade nos torna invencíveis, mas por qual luta? Minha ou sua? Por comida, pátria, patrão? A guerra é triste. Não há amor se não nos corações que se utilizam de seu calor para aquecer...esperançar e fortalecer.

Humana, por vezes animal. Rastejo para sobreviver. Camuflo e me escondo para não morrer. A guerra é suja, parece meio de seleção, mas para quem? Fuzil maior do que eu, junto à uma baioneta...pesado e não ajustável.
Meu filhinho, como queria você em meu colo. Não gosto do cheiro de armas. 





Secreto

Sobre o papel as palavras eu descarrego antes de expressá-las para você. (não expressei) A ansiedade e o impulso não me dominam pois escolhi...